Outrora escutei os anjos,
segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
Um mundo grande, para um feliz 2010.
Outrora escutei os anjos,
domingo, 6 de dezembro de 2009
esperança ao ar livre
(Ah, os rostos sentados
numa sala de espera.
Um "Diário Oficial" sobre a mesa.
Uma jarra com flores.
A xícara de café, que o contínuo
vem, amável, servir aos que esperam a audiência
[marcada.
Os retratos em cor, na parede,
dos homens ilustres que exerceram,
já em remotas épocas,
o manso ofício
de fazer esperar com esperança.
E uma resposta, que sempre será a mesma: só amanhã.
E os quase eternos amanhãs daqueles rostos sempre
[adiados
e sentados
numa sala de espera.)
Mas eu prefiro é a rua.
A rua em seu sentido usual de "lá fora".
Em seu oceano que é ter bocas e pés
para exigir e para caminhar.
A rua onde todos se reunem num só ninguém coletivo.
Rua do homem como deve ser:
transeunte, republicano, universal.
Onde cada um de nós é um pouco mais dos outros
do que de si mesmo.
Rua da procissão, do comício,
do desastre, do enterro.
Rua da reivindicação social,
onde mora o Acontecimento.
A rua! uma aula de esperança ao ar livre.
De Cassiano Ricardo (sala de espera) - para todas as nossas esperanças e desejos de mudança do lado de fora. Uma doa dose de ânimo poético para enfrentar e participar da rua de nossos dias.
E a foto é minha, com as crianças correndo e construindo a realidade que se apresenta nos arredores da chácara.
domingo, 29 de novembro de 2009
O tempo e as essências
33 anos, enfim. Chego ao meu novo ano no lugar de onde vim.
Retornei, para alguns dias, à casa materna, aos amigos do peito, ao pai e à mãe, à família de sangue, à família espiritual e à família que a gente escolhe.
Na companhia do meu filho, acolheram-me as minhas raízes e o amor que me nutriu até a partida para uma nova etapa no planalto central do Brasil. Emocionei-me, sem pudor, com cada abraço e cada sorriso que ganhei ao longo dos dias. E fiquei feliz, intensamente feliz, como uma criança de 3 anos imersa no mar pela primeira vez. Enquanto meu filho pulava as ondas e lambia as gotas salgadas com o prazer da descoberta, eu redescobria as minhas essências - com o mesmo prazer do desconhecido.
Tão bom saber que certas coisas não mudam! E não mudam porque são verdadeiras - e crescem a cada dia, à despeito da distância. Mudam-se os detalhes, as circunstâncias, as cores da vida cotidiana. Mas algumas essências resistem ao tempo e ao espaço. E são elas que nos impulsionam para todas as coisas que se seguem.
Sim, somos passado, presente e futuro, numa linha de tempo circular. O que foi, ainda é - e é para ser enquanto houver amor e vontade. O que não é mais um dia foi, e por isso ainda existe - em algum lugar, numa nova forma que se criou a partir do que já não mais pode ser.
E hoje agradeço por tudo que sou, pelos sentimentos verdadeiros que troquei, e ainda troco, com todos aqueles que me compõem. Agradeço por ver crescer o que plantei ao longo dos anos, pelas sementes férteis que foram regadas com cuidado e floresceram em amizades e histórias lindas, que hoje se reproduzem sozinhas. Acho que esse é o melhor presente que se pode ganhar aos 33.
E deixo aqui um registro especial para um lugar também especial: a roda de samba do ouro verde.
No pé do Marapé, em Santos, um clube de bairro se torna um lugar mágico aos sábados à noite. O ouro verde se perpetua no tempo com a energia boa daqueles que sabem que samba se faz com humildade e felicidade. É cultivado com muito carinho pelos seus sambistas de cabelos brancos e encanto inigualável, sempre sorridentes pelo simples prazer de se fazer samba. Rodeados por amigos, familiares e pessoas queridas que cantam as letras imortais dos velhos e bons sambas, o ouro verde não perde sua essência. E que bom poder fazer parte, um pouquinho só, dessa grande família unida pelo que a nossa música brasileira tem de melhor.
Nelson Cavaquinho anunciou que "o sambista vive eternamente, no coração da gente". E no meu coração, o Ouro Verde vive eternamente.
Deixo uma foto de lá. E sigo para enfrentar o novo ano renovada pelos amores que me fazem o que sou hoje.
terça-feira, 10 de novembro de 2009
O meu destino e eu
terça-feira, 20 de outubro de 2009
brasileiro que nem eu
Na minha casa da rua Lopes Chaves
De supetão senti um friúme por dentro.
Fiquei trêmulo, muito comovido
Com o livro palerma olhando pra mim.
muito longe de mim
Na escuridão ativa da noite que caiu
Um homem pálido magro de cabelo escorrendo nos olhos,
Depois de fazer uma pele com a borracha do dia,
Faz pouco se deitou, está dormindo.
Esse homem é brasileiro que nem eu.
a dura e necessária solidão
E mesmo mais tarde, mesmo agora, mesmo nestas últimas semanas, não acedi à consciência de minha natural solidão, o único meio de me tornar senhor de mim mesmo. Meu coração deslocou-se do meio de seus círculos em direção à periferia, para o lugar mais perto de ti – por mais que aí ele seja grande, sensível, jubiloso ou timorato, não se acha em sua constelação, não é o coração da minha vida.
Em nossos momentos mais doces e talvez mais justos, amada, asseguraste-me que podias abarcar todos os tipos de amor por mim. Ah, controla-te,..., resume-te àquela que, tenha o nome que tiver, assegura a minha vida, fortalece-me como pode. Não posso escapar de mim mesmo. Pois se eu desistisse de tudo, tudo, e me atirasse cegamente a teus braços, como por vezes desejo, e aí me perdesse, terias contigo alguém que houvera desistido de si mesmo: não seria a mim que terias, não a mim.
Não sou capaz de dissimular e me transformar. Exatamente como na minha infância, diante do violento amor de meu pai, ajoelho-me no mundo e peço indulgência àqueles que me amam. Sim, que me poupem! Que não me consumam para a própria felicidade, mas me assistam a fim de que se desenvolva em mim aquela felicidade mais funda e solitária. Sem a grande demonstração dessa felicidade, por fim, não me haveriam de ter amado”.
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
Hermético
É porque não dou sopa, estou sempre elétrico
Nada que se aproxima, nada me é estranho
Fulano sicrano e beltrano
Seja pedra, seja planta, seja bicho, seja humano
Quando quero saber o que ocorre a minha volta
Ligo a tomada, abro a janela, escancaro a porta
Experimento tudo, nunca me iludo
Quero crer no que vem por aí, beco escuro
Me iludo
passado presente futuro
Viro, balanço, reviro na palma da mão o dado
Tudo, sentir de todas as maneiras é a chave de ouro do meu jogo
É fósforo que acende o fogo da minha mais alta razão
de Jards Macalé/Waly Salomão
quinta-feira, 8 de outubro de 2009
Se cada dia cai
terça-feira, 6 de outubro de 2009
Que este amor só me veja de partida
Que este amor só me faça descontente
Que este amor só me veja de partida.
terça-feira, 29 de setembro de 2009
o importante é que a nossa emoção sobreviva
Mas a boa notícia é que estou intensa, viva, latente. E atenta aos sinais que me chegam.
Hoje acordei cantando os versos de Paulo César Pinheiro e Eduardo Gudin, que me sopram aos ouvidos: o importante é que nossa emoção sobreviva.
Não é mesmo?
É provável que o tempo faça a ilusão recuar
Pois tudo é instável e irregular
E de repente o furor volta
O interior todo se revolta
E faz nossa força se agigantar
Mas só se a vida fluir sem se opor
Mas só se o tempo seguir sem se impor
Mas só se for seja lá como for
O importante é que a nossa emoção sobreviva
E a felicidade amordace essa dor secular
Pois tudo no fundo é tão singular
É resistir ao inexorável
O coração fica insuperável
E pode em vida imortalizar
E a foto eu tirei no CCBB aqui em Brasília, durante uma exposição de arte para crianças.
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
Ele mesmo, cansaço
quarta-feira, 16 de setembro de 2009
Labirintos
E na foto um auto-retrato, na exposição do Amilcar de Castro para crianças.
Eu, que venho entrando e me perdendo em tantos labirintos, sem saber como sair.
Mas, por enquanto, não procuro as saídas de emergência. Procuro um melhor jeito de andar por entre as paredes e corredores que se abrem. Procuro o caminho.
Olho para o céu. Imenso. As estrelas apontam direções diversas.
E eu sigo uma voz que vem de dentro.
Meu coração está vivo. E é o que me move.
....................................................................
terça-feira, 15 de setembro de 2009
sexta-feira, 11 de setembro de 2009
quinta-feira, 3 de setembro de 2009
O lugar a que pertenço
terça-feira, 1 de setembro de 2009
Nosso processo de desmame
Foram muitos momentos. Tivemos noites difíceis, choros na madrugada, peito feito de chupeta, peito para consolo, peito para carinho. Tivemos também muitos dias de mãe cansada, filho doente grudado no peito, filho feliz grudado no peito, mãe orgulhosa, mãe desesperada por umas horas de sono, enfim. Tivemos muitas horas e momentos conectados pela amamentação, que foram fundamentais para a mãe e filho que somos hoje. E, olhando para trás, não tem sentimento melhor do que saber que dei ao meu filho o melhor que podia dar, além de todo o meu amor e carinho: o meu leite. Isso supera todas as dificuldades e noites mal dormidas. E tenho certeza que esse vínculo conquistado permanecerá para o resto das nossas vidas, consciente ou inconscientemente. E digo: peito demais não faz mal algum. Peito demais nunca é demais.
Hoje sinto que é o momento de iniciarmos um novo processo. Começamos, devagar, a nos relacionarmos sem o peito. No início tirei algumas mamadas. Depois outras. Ficamos de manhã e a noite, e conversamos muito. Todos os dias Bernardo ouvia e falava sobre o desmame. Até que, de fato, colocamos em prática, quando senti que ele estava maduro e preparado para este passo. Há dois meses atrás ele não estava. Agora sinto que sim, ele está, e eu estou feliz por vê-lo crescer seguro e confiante. Estamos assim: tem dias que ele mama para dormir, e dias que não mama. Dias em que acorda e mama, e dias em que acorda e não mama, e devemos seguir nesse ritmo alguns meses. Ele faz carinho no peito, abraça, pede para ver, beija, diz tchau. E assim vamos caminhando, com muita naturalidade. Sem choros incansáveis, sem choro assistido, sem escândalos, sem soluços. Como eu gostaria que fosse: um processo inevitável, que aconteceria quando fosse a hora, sem gerar traumas, aflições, angústias e, principalmente, sem pressa. Bonito e carinhoso, como toda a nossa jornada até aqui.
Toda criança, bem como toda mãe, tem o seu tempo - só seu, para se despedir do peito. Um tempo que não tem regras pré-estabelecidas, um tempo que só pode vir de dentro de cada um. Como um fruto maduro que cai da árvore quando está pronto para ser colhido. Como um bichinho que ganha o mundo sem sua mãe, quando está pronto para enfrentar sozinho a natureza. Por aqui vamos fazendo o nosso tempo.
segunda-feira, 31 de agosto de 2009
gritar eu bem gritei!
terça-feira, 25 de agosto de 2009
estou dando batalha
segunda-feira, 24 de agosto de 2009
com licença poética
domingo, 16 de agosto de 2009
sábado, 15 de agosto de 2009
um pé no chão e um sabiá
quinta-feira, 13 de agosto de 2009
Vitória nossa de cada dia....
terça-feira, 11 de agosto de 2009
os degraus
sábado, 8 de agosto de 2009
Artigo correio braziliense
http://www.direitoshumanos.etc.br/index.php?view=article&catid=45%3Adireito-a-saude&id=1395%3Adireito-a-saude-e-decisoes-judiciais-&format=pdf&option=com_content&Itemid=226
domingo, 2 de agosto de 2009
na ponta dos pés o salto
quinta-feira, 30 de julho de 2009
quarta-feira, 15 de julho de 2009
Desdobrável
quarta-feira, 8 de julho de 2009
a cada mil lágrimas...
se amargo foi já ter sido
troque já esse vestido
troque o padrão do tecido
saia do sério deixe os critérios
siga todos os sentidos
faça fazer sentido
a cada mil lágrimas sai um milagre
em caso de tristeza vire a mesa
coma só a sobremesa, coma somente a cereja
jogue para cima, faça cena
cante as rimas de um poema
sofra penas, viva apenas
sendo só fissura ou loucura
quem sabe casando cura ninguém sabe o que procura
faça uma novena, reze um terço
caia fora do contexto, invente seu endereço
a cada mil lágrimas sai um milagre
mas se apesar de banal
chorar for inevitável, sinta o gosto do sal do sal do sal
sinta o gosto do sal
gota a gota, uma a uma
duas três dez cem mil lágrimas
sinta o milagre
a cada mil lágrimas sai um milagre
de Itamar Assumpção e Alice Ruiz.
sempre me faz sentido.
terça-feira, 30 de junho de 2009
poética
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. Diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o
cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora
de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário
do amante exemplar com cem modelos de cartas
e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc.
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.
quinta-feira, 25 de junho de 2009
terça-feira, 16 de junho de 2009
segunda-feira, 8 de junho de 2009
destino dado
Mas quando é destino dado, maior que o miúdo, a gente ama inteiriço fatal, carecendo de querer, e é um só facear com as surpresas. Amor desse, cresce primeiro; brota é depois."
de Guimarães Rosa, Grande Sertão Veredas.
Um dos mais belos livros, sobre a vida, que eu já li.
Grande travessia literária.
sexta-feira, 5 de junho de 2009
SARAVAH
Trechos do histórico filme do francês Pierre Barouh.
Sem mais palavras.
Beleza musical do começo ao fim.
segunda-feira, 1 de junho de 2009
uma viola-de-amor
sexta-feira, 29 de maio de 2009
terça-feira, 26 de maio de 2009
Estou cansada. De fato, estou cansada.
Estou cansado, é claro,
Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado.
De que estou cansado, não sei:
De nada me serviria sabê-lo,
Pois o cansaço fica na mesma.
A ferida dói como dói
E não em função da causa que a produziu.
Sim, estou cansado,
E um pouco sorridente
De o cansaço ser só isto —
Uma vontade de sono no corpo,
Um desejo de não pensar na alma,
E por cima de tudo uma transparência lúcida
Do entendimento retrospectivo...
E a luxúria única de não ter já esperanças?
Sou inteligente; eis tudo.
Tenho visto muito e entendido muito o que tenho visto,
E há um certo prazer até no cansaço que isto nos dá,
Que afinal a cabeça sempre serve para qualquer coisa.
De Álvaro de Campos
E a foto é minha. Bob e Mara, nossos ex-vizinhos, num momento de paz.
segunda-feira, 25 de maio de 2009
O que vejo de longe, é o que ainda não vivi?
Posso fazer-me um traje novo?”
“é verdade que no formigueiro
Os sonhos são obrigatórios?”
“é verdade que as esperanças
Devem regar-se com orvalho?”
“e uma palavra não se arrasta
Às vezes como uma serpente?”
“em que janela fiquei
Olhando o tempo sepultado?”
De Pablo Neruda, do Livro das Perguntas.
quinta-feira, 21 de maio de 2009
Somando as incompreensões é que se ama
Toda trêmula, consegui continuar a viver. Toda perplexa continuei a andar, com a boca infantilizada pela surpresa. Tentei cortar a conexão entre os dois fatos: o que eu sentira minutos antes e o rato. Mas era inútil. Pelo menos a contigüidade ligava-os. Os dois fatos tinham ilogicamente um nexo. Espantava-me que um rato tivesse sido o meu contraponto.
segunda-feira, 18 de maio de 2009
viva as quartas-feiras
quinta-feira, 14 de maio de 2009
Fui recebendo em mim um desejo que ele não fosse mais embora, mas ficasse, sobre as horas, e assim como estava sendo, sem parolagem miúda, sem brincadeira— só meu companheiro amigo desconhecido. Escondido enrolei minha sacola, aí tanto, mesmo em fé de promessa, tive vergonha de estar esmolando. Mas ele apreciava o trabalho dos homens, chamando para eles meu olhar, com jeito de siso. Senti, modo meu de menino, que ele também se simpatizava a já comigo."
De Guimarães Rosa – Grande Sertão Veredas
Riobaldo e Diadorim
E a foto é minha. Bernardo, meu menino maluquinho.
sábado, 9 de maio de 2009
o nome dos poetas populares....
Eu não vejo razão pra separar
Todo o conhecimento que está cá
Foi trazido dentro de um só mocó
E ao chegar aqui abriram o nó
E foi como se ela saísse do ovo
A poesia recebeu sangue novo
Elementos deveras salutares
Deveriam estar na boca do povo
Os livros que vieram para cá
O Lunário e a Missão Abreviada
A donzela Teodora e a fábula
Obrigaram o sertão a estudar
De repente começaram a rimar
A criar um sistema todo novo
O diabo deixou de ser um estorvo
E o boi ocupou outros lugares
Deveriam estar na boca do povo
No contexto de uma sala de aula
Não estarem esses nomes me dá pena
A escola devia ensinar
Pro aluno não me achar um bobo
Sem saber que os nomes que eu louvo
São vates de muitas qualidades
O aluno devia bater palma
Saber de cada um o nome todo
Se sentir satisfeito e orgulhoso
E falar deles para os de menor idade
Que deveria estar na boca do povo.
quinta-feira, 7 de maio de 2009
Rilke
é também o medo de algum acontecimento novo, incalculável, frente ao qual não nos sentimos bastante fortes.
Somente quem está preparado para tudo, quem não exclui nada, nem mesmo o mais enigmático, poderá viver sua relação com outrem como algo de vivo e ir até o fundo de sua existência".
de Rainer Maria Rilke
terça-feira, 5 de maio de 2009
Bem no fundo
a gente gostaria de ver
nossos problemas resolvidos por decreto
a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio é considerada nula
e sobre ela — silêncio perpétuo
extinto por lei todo o remorso,
maldito seja que olhas pra trás,
lá pra trás não há nada, e nada mais
mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.
De Paulo Leminki
E a foto é minha. Bil, Be, Ju, Theo e Nina num passeio de domingo
domingo, 3 de maio de 2009
Orquestra Popular de Câmara
Perdi as contas de quantas vezes assisti a Orquestra Popular de Câmara às quartas-feiras à noite, no Supremo Musical, em São Paulo.
Eram noites deliciosas. Cada semana levava um amigo diferente, precisava compartilhar aqueles momentos musicais com todo mundo que gostava.
O espaço era pequeno, aconchegante, e a música tomava conta de tudo. Criava-se uma atmosfera incrível, as notas preechiam todos os espaços, dentro e fora da gente.
Um copo de vodca, um bom papo, e música instrumental brasileira da mais alta qualidade.
ô saudade!
sexta-feira, 1 de maio de 2009
Inundam-me diversas facetas de mim mesma.
Tantos contraditórios em carne viva.
Mas já aprendi que a escolha é a única saída possível.
E que a gente arde, sempre, seja qual for o caminho.
Quanto mais vivo, limito-me,
para caber em mim.
Permito-me a dúvida,
E a contingência.
Para respirar dentro do pequeno espectro possível.
Essa sou eu. A lente é do Bil, que muito me vê.
quarta-feira, 29 de abril de 2009
grito-me
Amamentar é, também, um ato de amor
Esse vídeo me emocionou. Achei lindo, simples e poético.
Como mãe, e mamífera, compartilho deste amor, que a tela nos mostra com tanta leveza e naturalidade.
Acredito no aleitamento materno.
O melhor alimento que seu filho pode ter, durante os primeiros anos de vida.
Leite, seios, lábios, amor.
Vida.
Saúde.
Viva!
segunda-feira, 27 de abril de 2009
A Barca Turista aprendiz
Um projeto que inspira.
De raizes sólidas, de criatividade e qualidade.
Voltemos a elas, para aprender e reproduzir o que há de bom.
Para que façamos música, todos, na sintonia boa de compartilhar a cultura popular brasileira.
Dança, música, poesia e religiosidade, no mesmo passo dos tambores.
Parabéns para A Barca. Trabalho íntegro desde sempre.
quinta-feira, 23 de abril de 2009
viroses do início do outono
Estamos agora no fim do ciclo. é preciso paciência para esperar o processo de amadurecimento do corpo. Uma coisa que aprendi foi a encarar as doenças infantis como processos de fortalecimento do organismo. De aprendizagem.
Aprendi a superar meus medos maternos, e confiar no meu filho.
Claro, estou com ele nessa jornada, lado a lado, com todo meu amor.
O menino doente
O menino dorme.
Para que o menino
Durma sossegado,
Sentada ao seu lado
A mãezinha canta:
— "Dodói, vai-te embora!
"Deixa o meu filhinho,"
“Dorme . . . dorme . . . meu . . ."
Morta de fadiga,
Ela adormeceu.
Então, no ombro dela,
Um vulto de santa,
Na mesma cantiga,
Na mesma voz dela,
Se debruça e canta:
— "Dorme, meu amor."
Dorme, meu benzinho . . . "
E o menino dorme.
De Manuel Bandeira
A foto é do Bil. Eu e Bernardo, conectados pela amamentação.
sábado, 18 de abril de 2009
vermelho gente
sexta-feira, 17 de abril de 2009
sonhos, sonhos......
No início tudo é sonho.
No início os sonhos são somente sonhos, sozinhos, habitantes de um mundo distante.
No início os sonhos são esperanças.
Depois começam, tímidos, a tomar corpo, a ficarem visíveis, quase palpáveis.
É quando, então, começa-se a acreditar neles.
É quando eles se tornam amigos, únicos, insubstituíveis.
Sonhos são então possibilidades, que alegram o dia, que movem as pernas, que impulsionam o corpo.
São o verdadeiro motivo, a verdadeira espera, o verdadeiro caminho.
São agora próximos, vizinhos.
Caminham passo a passo,
Dividem nossos anseios, nossa volúpia, nossas vontades mais secretas.
Sonhos vão crescendo, proliferam-se na escuridão, tomam conta do espaço vazio do quarto quando apagamos a luz.
É preciso cultivá-los, fazê-los prosperar, plantá-los nas ruas, nos jardins, nas árvores.
Sonhos, são, quem sabe, o que seremos amanhã, o que deixaremos para o mundo, o que será continuado por outro sonho desconhecido.
Sonhos são inocentes, assustados.
É preciso segurá-los, não lhes deixar escapar por entre os dedos, por entre a vil realidade, opressora.
Sonhos são o que nos aproximam de verdade das demais pessoas, tornando-as parte da nossa alma, da nossa loucura, da nossa lucidez.
Sonhos se revelam, esclarecem mistérios, nos fazem compreender o que normalmente não compreenderíamos.
Sonhos são forças, são deuses, são a própria essência, disfarçada, brilhante, colorida.
Sonhos não tem fim, ou melhor, são o próprio fim.
A memória é fraca, a vida é fraca.
No fim, por certo, tudo acaba. E no fim tudo é sonho
Escrevi fazem alguns anos.
E a foto tirei faz pouco, em casa. Be num momento de liberdade.
quinta-feira, 16 de abril de 2009
Cada um de nós é por enquanto a vida
terça-feira, 14 de abril de 2009
uma partida
segunda-feira, 13 de abril de 2009
radicais do pouco
homens altos passai por baixo do meu desprezo
Passai, aristocratas de tanga de ouro,
Passai frouxos
Passai radicais do pouco!
Quem acredita neles?
Mandem tudo isso para casa, descascar batatas simbólicas
Fechem-me isso a chave e deitem a chave fora.
Sufoco de ter só isso a minha volta.
Deixem-me respirar!
Abram todas as janelas
Abram mais janelas do que todas as janelas que há no mundo.
Nenhuma idéia grande, nenhuma corrente política que soe a uma idéia grão!
E o mundo quer a inteligência nova
O mundo tem sede de que se crie
O que aí está a apodrecer a vida, quando muito, é estrume para o futuro.
O que aí está não pode durar porque não é nada.
Eu, da raça dos navegadores, afirmo que não pode durar!
Eu, da raça dos descobridores, desprezo o que seja menos que descobrir o mundo novo.
Proclamo isso bem alto, braços erguidos, fitando o Atlântico
e saudando abstratamente o infinito.”
De álvaro de campos
sábado, 11 de abril de 2009
paulista também tem samba no pé
KikoDinucci e Bando afromacarrônico, no espaço Brasil Telecom.
Estamos escutando muito esses dias.
E que delícia de show. Bernardo dormiu no meu colo, e quase no final do show já estava difícil mantê-lo assim. Ficou inquieto. Mas o som dos tambores estava afinado, fiquei grudada na cadeira, dançando como podia.
Deu saudade dos batuques de São Paulo, dos espaços, dos amigos.
Saudades das noites inusitadas, das luzes que não se apagam, dos bares que não fecham, das festas nas casas dos amigos, e das rodas de samba paulista, sempre alegres e com muito samba no pé.
Aqui o link para um vídeo dos caras: http://www.youtube.com/watch?v=l9b1RCpe3Pc
"Sinto falta de São Paulo
De escutar na madrugada
Uns bordões de violões, e uma flauta a chorar prata"
Faço dos versos de Eduardo Gudin os meus lamentos de hoje.
terça-feira, 7 de abril de 2009
sucedido desgovernado
a lembrança da vida da gente se guarda em trechos diversos, cada um com seu signo e sentimento, uns com os outros acho que nem não se misturam. contar seguido, alinhavado, só mesmo sendo as coisas de rasa importância. de cada vivimento que eu real tive, de alegria forte ou pesar, cada vez daquela hoje vejo que eu era como se fosse diferente pessoa. sucedido desgovernado. assim eu acho, assim é que eu conto.
tem horas antigas que ficaram muito mais perto da gente do que outras, de recente data"
De Guimarães Rosa
coisas de dentro da gaveta
Faz tempo que escrevi. Mas o sentimento está aí para ser compartilhado.
Hoje eu rezo.
Rezo antes de deitar, uma prece solitária, com a cabeça no travesseiro e os olhos fechados para sentir o escuro.
Que meu coração não saiba que um dia eu chorei por ele.
Que ele não escute um lamento sequer, pois os lamentos são efêmeros quando exteriorizados.
Que meus lamentos sejam silenciosos, contidos, latentes.
Que a minha solidão de hoje seja só minha, como um fruto que colho pelos acontecimentos.
Que a minha dúvida ande sempre paralela, arredia, sucumbente.
Que ele não saiba da sua importância, pois as importâncias são individuais e assustadoras.
Que eu consiga acertar o passo, ajeitar a face, conter os sentimentos.
Que a minha explosão possa se diluir, possa se dissipar antes da tempestade.
E a tempestade, se tiver que vir, que deixe a terra úmida para a próxima colheita.
Que meu amor possa vibrar, possa atingir.
Que ele seja forte para agüentar a humanidade, para assimilar os erros e suportar os acertos.
Que eu descubra que ser mulher é ser humano,
Que a vontade de chorar não passa,
Que a vontade de sorrir não passa,
Que a vontade não passa.
Que eu saiba sentir a sua falta,
Que eu saiba respeitar os momentos da minha própria reclusão.
Que eu conheça as limitações e tenha a paciência necessária para aceitá-las.
Que quando a dor chegue, eu saiba reconhecê-la.
E que, sobretudo, como já aprendi,
Meu largo canto vibre acima dos ódios e ressentimentos,
Das intrigas e vinganças,
Nos espaços infinitos.
Antropologia Jurídica
De Robert Weaver Shirley
segunda-feira, 6 de abril de 2009
O imprevisto improvisado e fatal me fascina
De Clarice Lispector