Abraço a dor.
Sim, também a dor. Com calma deixo fluir a correnteza.
Contemplo.
Sim, também a dor. Com calma deixo fluir a correnteza.
Contemplo.
A passos curtos percorro a trilha que se abre pela mata.
É tudo tão triste, e tão bonito.
Tudo isso sou eu.
A Alice Ruiz iluminou meus últimos dias com o texto abaixo. Vivi o sonho, o pássaro morto, e também agradeci.
Agradeço.
Agradeço.
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PÁSSARO,
de Alice Ruiz
Preste atenção, ela disse, ao abrir para mim a porta de sua casa: - o que a gente sonha aqui, tende a acontecer. Pensei que é preciso ter coragem para morar em um lugar assim, onde o que se sonha passa a existir. Precisa ter muita certeza do seu sonho.
Mas não lembro o que sonhei porque acordei, abruptamente, com o barulho de um pássaro que voara em direção ao vidro da janela como se ela não existisse. Assisti sua morte, seu canto de morte. Ele saberia? Janelas novas pedindo, urgentes cortinas. Se a casa fosse minha. Mas uma casa pode pertencer a mim, substancialmente? eu mesma, tão passageira entre as coisas passageiras?
Ela disse: - eu agradeço por tudo, o tempo todo. - Pela dor também? Eu perguntei. E ela, em resposta, repetia minha pergunta: - pela dor também?
Quis contar do pássaro morto para lhe dar, além do enterro, um pouco de fama. Fama em vida não é bom. É uma espécie de geografia maldita porque quando você está nela, nenhum coração te alcança. O amor que ela oferece é o que te afasta do mundo. Para aceitá-lo só a submissa doçura de quem já morreu. Mas, às vezes é boa a dor porque nos lembra que estamos vivos. - Sim, eu disse pra ela, eu agradeço pela dor também.
- Eu sei uma dor de amor, ela respondeu como quem quer se livrar dela, e começou a contar: - Um dia, ele percebeu, surpreso, que a intensidade do amor que eu sentia, não podia ser verdade, não por ele. Simplesmente não tinha o tamanho dele. Não alcançava, nem de longe, aquele significado todo. Então voou.
- Então foi isso que você sonhou, eu disse. Ela parecia absorta, mas perguntou: - como era mesmo o pássaro que morreu?