Estamos em processo de desmame. Sim, está acontecendo. Depois de 2 anos e 8 meses, eu e Bernardo começamos a nos despedir dessa relação intensa que travamos através dos seios. Foram seis meses de amamentação exclusiva, e outros tantos de conforto, amor e nutrição através do leite materno, que lhe dava forças para descobrir o mundo e ganhar a sua independência.
Foram muitos momentos. Tivemos noites difíceis, choros na madrugada, peito feito de chupeta, peito para consolo, peito para carinho. Tivemos também muitos dias de mãe cansada, filho doente grudado no peito, filho feliz grudado no peito, mãe orgulhosa, mãe desesperada por umas horas de sono, enfim. Tivemos muitas horas e momentos conectados pela amamentação, que foram fundamentais para a mãe e filho que somos hoje. E, olhando para trás, não tem sentimento melhor do que saber que dei ao meu filho o melhor que podia dar, além de todo o meu amor e carinho: o meu leite. Isso supera todas as dificuldades e noites mal dormidas. E tenho certeza que esse vínculo conquistado permanecerá para o resto das nossas vidas, consciente ou inconscientemente. E digo: peito demais não faz mal algum. Peito demais nunca é demais.
Hoje sinto que é o momento de iniciarmos um novo processo. Começamos, devagar, a nos relacionarmos sem o peito. No início tirei algumas mamadas. Depois outras. Ficamos de manhã e a noite, e conversamos muito. Todos os dias Bernardo ouvia e falava sobre o desmame. Até que, de fato, colocamos em prática, quando senti que ele estava maduro e preparado para este passo. Há dois meses atrás ele não estava. Agora sinto que sim, ele está, e eu estou feliz por vê-lo crescer seguro e confiante. Estamos assim: tem dias que ele mama para dormir, e dias que não mama. Dias em que acorda e mama, e dias em que acorda e não mama, e devemos seguir nesse ritmo alguns meses. Ele faz carinho no peito, abraça, pede para ver, beija, diz tchau. E assim vamos caminhando, com muita naturalidade. Sem choros incansáveis, sem choro assistido, sem escândalos, sem soluços. Como eu gostaria que fosse: um processo inevitável, que aconteceria quando fosse a hora, sem gerar traumas, aflições, angústias e, principalmente, sem pressa. Bonito e carinhoso, como toda a nossa jornada até aqui.
Toda criança, bem como toda mãe, tem o seu tempo - só seu, para se despedir do peito. Um tempo que não tem regras pré-estabelecidas, um tempo que só pode vir de dentro de cada um. Como um fruto maduro que cai da árvore quando está pronto para ser colhido. Como um bichinho que ganha o mundo sem sua mãe, quando está pronto para enfrentar sozinho a natureza. Por aqui vamos fazendo o nosso tempo.