Nessa terça-feira especialmente difícil, encontro José Craveirinha - esse grande poema Moçambicano que nos deixou há alguns anos.
Emociono-me com cada letra, no pulsar de seu desejo de ser tambor.
Seu José, hoje também quero ser tambor, e viver as lembranças que remontam a sua terra de pele curtida ao sol.
Meus pensamentos pulam confusos e desejo, apenas, a batida crua de ser tambor.
Não querer, não arder, não resolver, não desafiar. Nada!
Apenas receber as mãos quentes que impulsionam as batidas ritmadas e a alegria de se fazer música.
A alegria de louvar e agradecer.
A alegria do choro comovido libertado depois de tantos anos.
A alegria de ser um único e propulsor tambor, capaz de traçar uma rota invisível de fé e esperança.
É para lá que estou indo.
E deixo um momento que captei no Fórum Social Mundial, ainda com a minha velha Pentax...
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Tambor está velho de gritar
Oh velho Deus dos homens
deixa-me ser tambor
corpo e alma só tambor
gritando na noite quente dos trópicos
Nem flor nascida no mato do desespero
Nem rio correndo para o mar do desespero
Nem zagaia temperado no lume vivo do desespero
Nem mesmo poesia forjada na dor rubra do desespero.
Nem nada!
Só tambor velho de gritar na lua cheia da minha terra
Só tambor de pele curtida ao sol da minha terra
Só tambor cavado nos troncos duros da minha terra.
Eu
Só tambor rebentando o silêncio amargo da Mafalala
Só tambor velho de sentar no batuque da minha terra
Só tambor perdido na escuridão da noite perdida.
Oh velho Deus dos homens
Eu quero ser tambor
e nem rio
e nem flor
e nem zagaia por enquanto
e nem mesmo poesia.
Só tambor ecoando como a canção da força da vida
Só tambor noite e dia
dia e noite só tambor
até a consumação da grande festa do batuque!
Oh velho Deus dos homens
Deixa-me ser tambor!
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