domingo, 2 de agosto de 2009

na ponta dos pés o salto


Para além da orelha existe um som, à extremidade do olhar um aspecto, às pontas dos dedos um objeto - é para lá que eu vou.
À ponta do lápis o traço.
Onde expira um pensamento está uma idéia, ao derradeiro hálito de alegria uma outra alegria, à ponta da espada a magia - é para lá que eu vou.

Na ponta dos pés o salto.

Parece a história de alguém que foi e não voltou - é para lá que eu vou. Ou não vou? Vou, sim. E volto para ver como estão as coisas.
Se continuam mágicas. Realidade? eu vos espero. E para lá que eu vou.

.........

À extremidade de mim estou eu.
Eu, implorante, eu a que necessita, a que pede, a que chora, a que se lamenta.
Mas a que canta. A que diz palavras. Palavras ao vento? que importa, os ventos as trazem de novo e eu as possuo.
Eu à beira do vento. O morro dos ventos uivantes me chama. Vou, bruxa que sou. E me transmuto.
Oh, cachorro, cadê tua alma? está à beira de teu corpo? Eu estou à beira de meu corpo.
E feneço lentamente.
Que estou eu a dizer? Estou dizendo amor. E à beira do amor estamos nós.
De Clarice Lispector

E a foto é minha. À beira de.
Quase explodindo nessa noite de domingo.
------------------------------------------------------------------

Nenhum comentário:

Postar um comentário