Um homem catava pregos no chão.
Sempre os encontrava deitados de comprido,
ou de lado,
ou de joelhos no chão.
Nunca de ponta.
Assim eles não furam mais – o homem pensava.
Eles não exercem mais a função de pregar.
São patrimônios inúteis da humanidade.
Ganharam o privilégio do abandono.
O homem passava o dia inteiro nessa função de catar pregos enferrujados.
Acho que essa tarefa lhe dava algum estado.
Estado de pessoas que se enfeitam a trapos.
Catar coisas inúteis garante a soberania do Ser.
Garante a soberania de Ser mais do que Ter.
- Manoel de Barros -
Inspiro ar aos pulmões com a poesia de Manoel de Barros. Olho ao redor e inundo-me de urgências de TER. Sufoco-me. Sofro as mesquinharias daqueles que pulsam em nome de TER. Um TER que não tem barreiras. Daqueles que se esquecem que SÃO, em meio a outros que também SÃO, com a existência sagrada que respira o caminhar dos dias. Existência essa tão negligenciada. Tão esquecida em meio a uma existência concreta de funcionalidades capitalistas. De
status quo de papel.
Eu quero é continuar catando meus pregos enferrujados.
E na foto um registro dos meus pequenos buscando sentido em formigas, pedras e flores de jardim.
"As coisas tinham para nós uma desutilidade poética.
ResponderExcluirNos fundos do quintal era muito riquíssimo o nosso dessaber.
A gente inventou um truque para fabricar brinquedos com palavras.
O truque era só virar bocó.
Como dizer: Eu pendurei um bentevi no sol..."
(manoel de barros, livro sobre o nada)
que os pregos continuem cinzelando poesias, e o manoel adube nosso jardim com ignorãças, cheios de nada, florecendo sempre um fazedor de amanhecer e furmigar poemas rupestres.
um abraço, e valeu pelas passagens na sarje, espero sempre seu retorno.
parabens pelo espaço.
koisan uchoà