domingo, 29 de novembro de 2009

O tempo e as essências


33 anos, enfim. Chego ao meu novo ano no lugar de onde vim.
Retornei, para alguns dias, à casa materna, aos amigos do peito, ao pai e à mãe, à família de sangue, à família espiritual e à família que a gente escolhe.

Na companhia do meu filho, acolheram-me as minhas raízes e o amor que me nutriu até a partida para uma nova etapa no planalto central do Brasil. Emocionei-me, sem pudor, com cada abraço e cada sorriso que ganhei ao longo dos dias. E fiquei feliz, intensamente feliz, como uma criança de 3 anos imersa no mar pela primeira vez. Enquanto meu filho pulava as ondas e lambia as gotas salgadas com o prazer da descoberta, eu redescobria as minhas essências - com o mesmo prazer do desconhecido.

Tão bom saber que certas coisas não mudam! E não mudam porque são verdadeiras - e crescem a cada dia, à despeito da distância. Mudam-se os detalhes, as circunstâncias, as cores da vida cotidiana. Mas algumas essências resistem ao tempo e ao espaço. E são elas que nos impulsionam para todas as coisas que se seguem.

Sim, somos passado, presente e futuro, numa linha de tempo circular. O que foi, ainda é - e é para ser enquanto houver amor e vontade. O que não é mais um dia foi, e por isso ainda existe - em algum lugar, numa nova forma que se criou a partir do que já não mais pode ser.

E hoje agradeço por tudo que sou, pelos sentimentos verdadeiros que troquei, e ainda troco, com todos aqueles que me compõem. Agradeço por ver crescer o que plantei ao longo dos anos, pelas sementes férteis que foram regadas com cuidado e floresceram em amizades e histórias lindas, que hoje se reproduzem sozinhas. Acho que esse é o melhor presente que se pode ganhar aos 33.

E deixo aqui um registro especial para um lugar também especial: a roda de samba do ouro verde.

No pé do Marapé, em Santos, um clube de bairro se torna um lugar mágico aos sábados à noite. O ouro verde se perpetua no tempo com a energia boa daqueles que sabem que samba se faz com humildade e felicidade.
É cultivado com muito carinho pelos seus sambistas de cabelos brancos e encanto inigualável, sempre sorridentes pelo simples prazer de se fazer samba. Rodeados por amigos, familiares e pessoas queridas que cantam as letras imortais dos velhos e bons sambas, o ouro verde não perde sua essência. E que bom poder fazer parte, um pouquinho só, dessa grande família unida pelo que a nossa música brasileira tem de melhor.

Estive lá, depois de alguns anos, e fui recepcionada pelos mesmos olhares delicados, pela mesma identificação e admiração, e pela vibração boa de seus repiques, cavacos, trombone, tamborins, pandeiros e afins. Encontrei as mesmas personalidades ao redor, as mesmas palmas, o mesmo passo candenciado no pé. Estou certa de que minha alma de sambista ali encontrou guarida. E sempre estará por lá, como as dos que se sentavam no meio da roda e já se foram.

Nelson Cavaquinho anunciou que "o sambista vive eternamente, no coração da gente". E no meu coração, o Ouro Verde vive eternamente.

Deixo uma foto de lá. E sigo para enfrentar o novo ano renovada pelos amores que me fazem o que sou hoje.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

O meu destino e eu


Não sou a areia onde se desenha um par de asas
ou grades diante de uma janela.
Não sou apenas a pedra que rola
nas marés do mundo, em cada praia renascendo outra.

Sou a orelha encostada na concha da vida,
sou construção e desmoronamento,
servo e senhor, e sou mistério

A quatro mãos escrevemos este roteiro
para o palco de meu tempo:
o meu destino e eu.
Nem sempre estamos afinados,
nem sempre nos levamos a sério.

de Lya Luft

"Um homem se confunde, gradualmente, com a forma de seu destino;
um homem é, afinal, suas circustâncias" - de Jorge Luiz Borges
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Deixo as reflexões que tem me conduzidos nestes dias, e sigo correndo para cumprir o meu destino - que nesta semana me reserva grandes desafios.
E deixo também uma foto que tirei no fim de semana, que foi permeado por crianças livres e nuas correndo pelo jardim.