sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Em tempo de rosa


Neste fim de ano ganhei um presente que me tocou fundo. Um livro. Um livro simples e grandioso, da Alice Ruiz, chamado "Proesias". O livro me engoliu de delicadezas. Boas delicadezas escritas por essa mulher que, certamente, tem o que dizer. As imagens em xilogravuras, que acompanham as letras corridas, tecem outras poesias - em miradas cuidadosas. Realmente, foi um presente de apaziguar a alma.

Em tempo de rosa, especialmente, comoveu-me pela leve poética e beleza de sentimentos. Veio ao encontro de um aperto no peito que insistia em se calar sem ser ouvido. Acalentei-o, enfim, com a "proesia" de Alice.
E aqui está:

Tinha um riso inteiro no que eu me lembre. Tinha alguma coisa já conhecida no que me esqueço. E era o poema que tinha dentro.
Nem maior, nem menor. Igual, nem nunca.
Fiquei assim sorvendo a risada no ar. Minha ou dele, na mesma.
O ter que falar dele foi parte desse caminho meu, o das palavras.
Não é que ele era um que podia responder? Parecia, sim.
E o sorriso aumentava por dentro. Por fora, se mantendo.
Que nem quando as mãos se tocam e os olhos se enchem de borboletas, asas a mil.

Mas isso num assim, como se nada tivesse acontecido.
Que lá sou eu alguém que, às vezes, nem que dou conta de estar aqui.
Dá para inventar uma pessoa inteira, ou poema, quando ainda não se sabe.
Depois é mais difícil.
Esse que eu vi, foi meu olhar que inventou? E como então ele poderia continuar vindo?
Dele já tenho saudade. De nós. Da dupla.
Dupla é uma que é sempre duas, refletida em si mesma,
onde o um nunca se ausenta sozinho, num ensimesmamento que não tem mais jeito.

Diante de si, ás vezes imóvel, outras tremulante,
outras nem tanto, sempre o reflexo.
Se reconhecem? É mesmo frente a frente que a gente se vê melhor ou seria de soslaio que o olho saberia mais?
O corpo, a mais imanente das transcendências, por exemplo,
precisava mesmo estar ali, quando tinha toda essa felicidade na dança dos pensamentos? Sim.

Luminosos como só no sonho. Ali, talvez, o conhecimento de nós.
Nessa rarefação, matéria sutil de que é feita a textura do sonho, concordamos. Acordamos.
Lá, onde não estamos, estamos completamente.
Pétala sobre pétala.
Verso sobre verso.
 - Alice Ruiz - 


E na foto um momento que captei, ainda com a minha velha pentax, nos lados de Goiás Velho, a bela cidade de Goiás.