segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Um mundo grande, para um feliz 2010.


Ao ler o Drummond nesta manhã de final de ano, pensei que não havia melhor mensagem para me despedir de 2009, e abrir as portas para o novo ciclo que se inicia.

E deixo-a nessas linhas, com desejo de que todos os corações cresçam no sentido de tempo e na direção do mundo - que não se acaba.

Que 2010 traga poesias, flores, amores.

Traga esperança e beleza para além das dificuldades dos nossos dias, que se erguem permeados de dores e misérias humanas. Dias melhores hão de vir, e virão pelas nossas mãos. Movidos pelos corações que pulsam e se expandem rompendo as cortinas dos escritórios engravatados e pautados pelas cifras bancárias.

Felicidades verdadeiras, para todos nós!

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Tu sabes como é grande o mundo.
Conheces os navios que levam petróleo e livros, carne e algodão.
Viste as diferentes cores dos homens,
as diferentes dores dos homens,
sabes como é difícil sofrer tudo isso,
amontoar tudo isso
num só peito de homem... sem que ele estale.

Fecha os olhos e esquece.
Escuta a água nos vidros, tão calma, não anuncia nada.
Entretanto escorre nas mãos, tão calma!
Vai inundando tudo...Renascerão as cidades submersas?
Os homens submersos – voltarão?
Meu coração não sabe.
Estúpido, ridículo e frágil é meu coração.
Só agora descubro como é triste ignorar certas coisas.
(Na solidão de indivíduo
desaprendi a linguagem
com que homens se comunicam.)

Outrora escutei os anjos,
as sonatas, os poemas, as confissões patéticas.
Nunca escutei voz de gente.
Em verdade sou muito pobre.

Outrora viajei
países imaginários, fáceis de habitar,
ilhas sem problemas, não obstante exaustivas e
convocando ao suicídio.

Meus amigos foram às ilhas.
Ilhas perdem o homem.
Entretanto alguns se salvaram e
trouxeram a notícia
de que o mundo, o grande mundo está crescendo todos os dias,
entre o fogo e o amor.
Então, meu coração também pode crescer.
Entre o amor e o fogo,
entre a vida e o fogo,
meu coração cresce dez metros e explode.
– Ó vida futura! Nós te criaremos.
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Carlos Drummond de Andrade
E a foto é minha. Be e Sol olhando o mundo grande, do alto dos seus quase 3 anos de idade.

domingo, 6 de dezembro de 2009

esperança ao ar livre


(Ah, os rostos sentados
numa sala de espera.

Um "Diário Oficial" sobre a mesa.
Uma jarra com flores.

A xícara de café, que o contínuo
vem, amável, servir aos que esperam a audiência
[marcada.

Os retratos em cor, na parede,

dos homens ilustres
que exerceram,
já em remotas épocas,

o manso ofício
de fazer esperar com esperança.

E uma resposta, que sempre será a mesma: só amanhã.
E os quase eternos amanhãs daqueles rostos sempre
[adiados
e sentados

numa sala de espera.)

Mas eu prefiro é a rua.
A rua em seu sentido usual de "lá fora".
Em seu oceano que é ter bocas e pés
para exigir e para caminhar.

A rua onde todos se reunem num só ninguém coletivo.
Rua do homem como deve ser:
transeunte, republicano, universal.

Onde cada um de nós é um pouco mais dos outros
do que de si mesmo.

Rua da procissão, do comício,

do desastre, do enterro.
Rua da reivindicação social,
onde mora
o Acontecimento.

A rua! uma aula de esperança ao ar livre.


De Cassiano Ricardo (sala de espera) - para todas as nossas esperanças e desejos de mudança do lado de fora. Uma doa dose de ânimo poético para enfrentar e participar da rua de nossos dias.

E a foto é minha, com as crianças correndo e construindo a realidade que se apresenta nos arredores da chácara.