domingo, 6 de dezembro de 2009

esperança ao ar livre


(Ah, os rostos sentados
numa sala de espera.

Um "Diário Oficial" sobre a mesa.
Uma jarra com flores.

A xícara de café, que o contínuo
vem, amável, servir aos que esperam a audiência
[marcada.

Os retratos em cor, na parede,

dos homens ilustres
que exerceram,
já em remotas épocas,

o manso ofício
de fazer esperar com esperança.

E uma resposta, que sempre será a mesma: só amanhã.
E os quase eternos amanhãs daqueles rostos sempre
[adiados
e sentados

numa sala de espera.)

Mas eu prefiro é a rua.
A rua em seu sentido usual de "lá fora".
Em seu oceano que é ter bocas e pés
para exigir e para caminhar.

A rua onde todos se reunem num só ninguém coletivo.
Rua do homem como deve ser:
transeunte, republicano, universal.

Onde cada um de nós é um pouco mais dos outros
do que de si mesmo.

Rua da procissão, do comício,

do desastre, do enterro.
Rua da reivindicação social,
onde mora
o Acontecimento.

A rua! uma aula de esperança ao ar livre.


De Cassiano Ricardo (sala de espera) - para todas as nossas esperanças e desejos de mudança do lado de fora. Uma doa dose de ânimo poético para enfrentar e participar da rua de nossos dias.

E a foto é minha, com as crianças correndo e construindo a realidade que se apresenta nos arredores da chácara.

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