sexta-feira, 12 de março de 2010

desistências


Nesses dias de estranheza, em compasso de espera, aprendo algo mais sobre mim mesma. Aprendo a parar a minha natureza de vento, a aquietar o corpo e a mente que apresentam sinais de esgotamento.
Começo a acreditar que as doenças são, de fato, processos de transformação. E transmuto-me no meu medo desconhecido de ser, em busca do meu silêncio. Perco a razão dos homens, em busca de minha própria razão desassistida. Solto algumas amarras, e navego tremendo para algum lugar onde possa ver as cores do pôr-do-sol. Hei de chegar, quando for a hora, no meu próprio porto seguro.
E para tanto é preciso desapegar, desistir de algumas coisas, para que - num futuro próximo - outras possam vir. E que venham mais calmas e condizentes com a simplicidade e leveza que a vida deve ter.

Esse trecho de Clarice Lispector veio em boa hora, para me revelar o dom da desistência:

"Pois existe a trajetória, e a trajetória não é apenas um modo de ir. A trajetória somos nós mesmos. Em matéria de viver, nunca se pode chegar antes. A via-crucis não é um descaminho, é a passagem única, não se chega senào através dela e com ela. A insistência é o nosso esforço, a desistência é o prêmio. A este só se chega quando se experimentou o poder de construir e, apesar do gosto de poder, prefere-se a desistência. A desistência tem que ser uma escolha. Desistir é a escolha mais sagrada de uma vida. Desistir é o verdadeiro instante humano. E só esta, é a glória de minha condição. A desistência é uma revelação"

E na foto as cores do entardecer de Brasília, que tem me acompanhado nesses dias difíceis.

3 comentários:

  1. até plagiei tua postagem para o meu blog.
    disse tudo.
    preciso e essencial.

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  2. Mana,

    O que busco incessante e constantemente é a simplicidade e a leveza, mas a cada dia que passa sinto que minha busca assemelha-se ao comportamento de um lobo correndo em círculos...
    Teria o velho Kundera razão em dizer que é insustentável a leveza do ser?
    Não sei...
    E entre paradoxos, "quase certezas" e muitas dúvidas, sigo minha jornada pela vida afora...

    Bjos na alma,
    Beleirmã

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  3. Mana,

    O que busco incessante e constantemente é a simplicidade e a leveza, mas a cada dia que passa sinto que minha busca assemelha-se ao comportamento de um lobo correndo em círculos...
    Teria o velho Kundera razão em dizer que é insustentável a leveza do ser?
    Não sei...
    E entre paradoxos, "quase certezas" e muitas dúvidas, sigo minha jornada pela vida afora...

    Bjos na alma,
    Beleirmã

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