Para além da orelha existe um som, à extremidade do olhar um aspecto, às pontas dos dedos um objeto - é para lá que eu vou. 
À ponta do lápis o traço. 
Onde expira um pensamento está uma idéia, ao derradeiro hálito de alegria uma outra alegria, à ponta da espada a magia - é para lá que eu vou. 
Na ponta dos pés o salto. 
Parece a história de alguém que foi e não voltou - é para lá que eu vou. Ou não vou? Vou, sim. E volto para ver como estão as coisas. 
Se continuam mágicas. Realidade? eu vos espero. E para lá que eu vou. 
.........
À extremidade de mim estou eu. 
Eu, implorante, eu a que necessita, a que pede, a que chora, a que se lamenta. 
Mas a que canta. A que diz palavras. Palavras ao vento? que importa, os ventos as trazem de novo e eu as possuo. 
Eu à beira do vento. O morro dos ventos uivantes me chama. Vou, bruxa que sou. E me transmuto. 
Oh, cachorro, cadê tua alma? está à beira de teu corpo? Eu estou à beira de meu corpo. 
E feneço lentamente. 
Que estou eu a dizer? Estou dizendo amor. E à beira do amor estamos nós.
De Clarice Lispector
E a foto é minha. À beira de. 
Quase explodindo nessa noite de domingo. 
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