terça-feira, 1 de setembro de 2009

Nosso processo de desmame

Estamos em processo de desmame. Sim, está acontecendo. Depois de 2 anos e 8 meses, eu e Bernardo começamos a nos despedir dessa relação intensa que travamos através dos seios. Foram seis meses de amamentação exclusiva, e outros tantos de conforto, amor e nutrição através do leite materno, que lhe dava forças para descobrir o mundo e ganhar a sua independência.

Foram muitos momentos. Tivemos noites difíceis, choros na madrugada, peito feito de chupeta, peito para consolo, peito para carinho. Tivemos também muitos dias de mãe cansada, filho doente grudado no peito, filho feliz grudado no peito, mãe orgulhosa, mãe desesperada por umas horas de sono, enfim. Tivemos muitas horas e momentos conectados pela amamentação, que foram fundamentais para a mãe e filho que somos hoje. E, olhando para trás, não tem sentimento melhor do que saber que dei ao meu filho o melhor que podia dar, além de todo o meu amor e carinho: o meu leite. Isso supera todas as dificuldades e noites mal dormidas. E tenho certeza que esse vínculo conquistado permanecerá para o resto das nossas vidas, consciente ou inconscientemente. E digo: peito demais não faz mal algum. Peito demais nunca é demais.

Hoje sinto que é o momento de iniciarmos um novo processo. Começamos, devagar, a nos relacionarmos sem o peito. No início tirei algumas mamadas. Depois outras. Ficamos de manhã e a noite, e conversamos muito. Todos os dias Bernardo ouvia e falava sobre o desmame. Até que, de fato, colocamos em prática, quando senti que ele estava maduro e preparado para este passo. Há dois meses atrás ele não estava. Agora sinto que sim, ele está, e eu estou feliz por vê-lo crescer seguro e confiante. Estamos assim: tem dias que ele mama para dormir, e dias que não mama. Dias em que acorda e mama, e dias em que acorda e não mama, e devemos seguir nesse ritmo alguns meses. Ele faz carinho no peito, abraça, pede para ver, beija, diz tchau. E assim vamos caminhando, com muita naturalidade. Sem choros incansáveis, sem choro assistido, sem escândalos, sem soluços. Como eu gostaria que fosse: um processo inevitável, que aconteceria quando fosse a hora, sem gerar traumas, aflições, angústias e, principalmente, sem pressa. Bonito e carinhoso, como toda a nossa jornada até aqui.

Toda criança, bem como toda mãe, tem o seu tempo - só seu, para se despedir do peito. Um tempo que não tem regras pré-estabelecidas, um tempo que só pode vir de dentro de cada um. Como um fruto maduro que cai da árvore quando está pronto para ser colhido. Como um bichinho que ganha o mundo sem sua mãe, quando está pronto para enfrentar sozinho a natureza. Por aqui vamos fazendo o nosso tempo.

6 comentários:

  1. É isso aí, Xu. Esse foi o primeiro desmame, depois virão outros. O primeiro é sempre mais difícil. Há certamente o ensaio, necessário em qualquer situação. É a simulação do que está prestes a acontecer, do inevitável, a preparação.A maturidade é sempre o norte pra saber se estamos agindo direito. O filho maduro está preparado, a boa mãe sabe reconhecer isso. Mas tem uma coisa que nunca acontecerá: é o filho mesmo desmamado deixar de amar a mãe que ele tanto adora.Qualquer que seja o desmame, em qualquer fase da vida, eles nunca deixarão de amar a boa mãe, aquela que sabe olhar e ouvir o filho, que sabe reconhecer nele o verdadeiro amigo. Parabéns pra vcs dois por esse passo tão importante no crescimento dessa relação que não acabará nunca, ela transcende qualquer desmame!
    Bjs orgulhosos, Tia Lena

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  2. Oi, Ni!

    Tão pouco tempo entre nós e tantas histórias para contar. Dois anos e oito meses de pura intensidade.
    Nunca fui mãe, mas penso que às vezes você se pega perguntando: Como vivi tanto tempo da minha vida sem o Bernardo?
    O amor que sente por ele está estampado em seus olhos, sorrisos e gestos e é bonito de se ver.
    A despedida de uma relação é sempre o prenúncio de outra, mais forte e experiente.
    Não apenas você contribuiu para tudo que ele vai se tornar daqui pra frente, pois a amamentação é a essência de um adulto seguro e feliz, como ele te fez mais bonita e orgulhosa.
    Acho engraçado perceber que, na verdade, para a criança é muito mais normal parar de mamar à medida em que se sente mais segura em relação ao mundo, do que para as mães, que sempre se sentem "abandonadas" por verem uma relação tão intensa quanto essa acabar.
    Porém, você, mais do que ninguém, sabe o quanto a amamentação uniu vocês para o resto de suas vidas. Um laço feito nó, que jamais se desata.
    Parabéns por esse gesto de carinho maior do mundo e que te dará sabedoria e força para enfrentar todos os "desmames" que ainda estão por vir.

    bj

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  3. que lindo relato sil...
    eu, que acompanho de perto me sinto muito orgulhosa de vocês.
    :)

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  4. sil,
    quando li o post, fiquei pensando no meu choro doído de quando isso tiver q acontecer aqui com o Lucas.
    mas...
    em compensação, como foi bem dito num comentário acima, ficarei cheia de alegria ao ter certeza q esse laço de nós jamais será desatado e...q a despedida de uma relação é sempre prenúncio de outra.
    bom ler o seu post e o lindo e suave comentário da(o) Cã.
    fjs,
    fêdaRaedoLu

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  5. Que lindo Sil! Amei seu texto.
    Sinto que dei o primeiro passo que foi tirar uma mamada e quero que esse processo tome o tempo que precisarmos, sem pressa e sem pressões.

    Bjs,
    Tati.

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  6. Lindo Querida Sil! Me identifiquei muito!!! Obrigada!

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